Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a Igreja Apostólica Kaléo Chamados em Cristo vem se destacando desde maio deste ano. Fundada por um casal LGBT, o templo é liderado pela pastora Maiara Heli e pelo pastor Heliano Ferreira, homem trans. Com uma proposta inclusiva, a igreja acolhe pessoas que tradicionalmente enfrentam preconceitos em espaços religiosos.
“Mesmo que muitos digam que LGBTs não herdarão o reino dos céus, depois que conheci o Evangelho, eu sei que Jesus me aceita”, afirmou Heliano em entrevista, relatando uma trajetória de superação. Hoje com 45 anos, ele cresceu em uma família católica tradicional, onde enfrentou o preconceito contra sua identidade por muito tempo. Durante a juventude, esconder suas atrações por mulheres parecia a única opção, já que tinha receio de ser rejeitado.
Aos 34 anos, decidiu se assumir e ficou surpreso com a aceitação de sua mãe e amigos, que disseram já “desconfiar” da sua orientação. Mesmo assim, Heliano ainda carregava o peso do pecado em relação a Deus, até que recebeu um convite para uma igreja inclusiva, onde encontrou um novo entendimento do Evangelho e conheceu Maiara, com quem está há sete anos.
Em busca de viver sua identidade por completo, Heliano iniciou sua transição de gênero com o apoio de Maiara e dos filhos. Durante esse processo, enfrentou um câncer de mama, que o levou a passar por uma mastectomia em 2021 e, após três anos, está em remissão. “Agora, estou 100% Heliano, vivendo o que sempre quis e sem câncer.”
A igreja, cujo nome significa “chamado” ou “vocação,” é um espaço de acolhimento e inclusão, onde Heliano e Maiara buscam mostrar que a fé é um caminho aberto a todos. “Não vivo em promiscuidade; sou esposo de uma mulher só. Pior são aqueles que mentem para si mesmos e para Deus. Esses, sim, terão muito a prestar contas,” afirmou, defendendo que sua união e fé são legítimas e abençoadas.